Reflexão para o mês de Maio

1 Samuel 16,1.6-13: Discernir a presença de Deus
O Senhor disse a Samuel: «Até quando chorarás Saul, tendo-o Eu rejeitado para que não reine em Israel? Enche o teu chifre de óleo e vai. Quero enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos.» Samuel respondeu: «Como hei-de ir? Se Saul souber, irá tirar-me a vida.» Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: «Certamente é este o ungido do Senhor.» Mas o Senhor disse a Samuel: «Que te não impressione o seu belo aspecto, nem a sua alta estatura, pois Eu rejeitei-o. O que o homem vê não importa; o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração.»
Jessé chamou Abinadab e apresentou-o a Samuel, que disse: «Não é este o que o Senhor escolheu.» Jessé trouxe-lhe, também, Chamá. E Samuel disse: «Ainda não é este o que o Senhor escolheu.» Jessé apresentou-lhe, assim, os seus sete filhos, mas Samuel disse: «O Senhor não escolheu nenhum deles.» E acrescentou: «Estão aqui todos os teus filhos?» Jessé respondeu: «Resta ainda o mais novo, que anda a apascentar as ovelhas.» Samuel ordenou a Jessé: «Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa antes de ele ter chegado.»
Jessé mandou então buscá-lo. David era louro, de belos olhos e de aparência formosa. O Senhor disse: «Ei-lo, unge-o: é esse.» Samuel tomou o chifre de óleo e ungiu-o na presença dos seus irmãos. E, a partir daquele dia, o espírito do Senhor apoderou-se de David. E Samuel voltou para Ramá.(1 Samuel 16, 1.6-13)

Por vezes a Bíblia parece bastante complicada. Porque se contam, nos livros de Samuel, tantas rivalidades políticas, o fracasso de um Rei, a chegada ao poder do seu sucessor? Porque que se lançam, sobre a mesma realidade, olhares tão diferentes, por vezes contraditórios? Para quê deixar subsistir diferentes versões de um mesmo acontecimento, sem tentar unificar num todo? Onde está a palavra de Deus no meio daquilo tudo?
Os autores bíblicos relêem a história do seu povo e procuram a presença de Deus. Nesta releitura, querem compreender como é que Deus, apesar das aparências, guiou o seu povo ou, pelo contrário, como ele não esteve por detrás deste ou daquele projecto humano, cuja responsabilidade é apenas de corações endurecidos e surdos ao apelo divino. Uma releitura da história pela fé permite compreender de outra forma certos acontecimentos. A passagem da vida tribal à monarquia ocupa um lugar importante nesta história, e as opiniões sobre a realeza são divergentes. E é aqui que o rei David é colocado em primeiro plano. É notável que neste relato, que visa falar do projecto de Deus e sublinhar o que é relevante da vontade divina, o homem não seja posto de parte. Os documentos de diferentes épocas não escondem as lutas de poder, as tensões políticas, as fraquezas humanas, como se os vários autores da Bíblia soubessem que a vontade de Deus se cumpre no meio de uma história humana por vezes ambígua, como se fosse necessário que nós, leitores, aceitássemos que as contradições fazem parte da paisagem.
Os livros de Samuel sublinham que David se tornou rei por vontade de Deus. A explicação última do seu sucesso não é a sua habilidade política ou guerreira. Terão talvez circulado rumores segundo os quais ele terá chegado ao poder por derramar sangue inocente ou ao mostrar-se impiedoso. Estes textos desmentem essas afirmações. David não usurpou a sua coroa: ela foi-lhe dada.
Reconhecer a presença ou a ausência de Deus não é coisa fácil. O profeta Samuel, chegado a Belém, deve dar a unção a um dos filhos de Jessé que Deus escolheu. Eliab, o primeiro a apresentar-se, tem o perfil e Samuel ousa um «certamente» (v.6) bastante imprudente. Mas à medida que desfilam os sete filhos de Jessé, o profeta torna-se mais cauteloso. Finalmente, ele tem que esperar que uma palavra de Deus indique a sua escolha, que será também imprevisível. Um dia, outras pessoas, a quem Deus fez um sinal, virão a Belém. Serão chamados a reconhecer a presença de Deus numa criança e, mais tarde, em Jerusalém, um rei fá-lo-á a um jovem homem pregado a uma cruz. Os profetas sabem que as aparências enganam. Deus está muitas vezes onde menos se espera.
- Não dar uma importância exagerada às aparências: como é que isso pode ser uma fonte de liberdade?
- Estar pronto a deixar-se surpreender por Deus: porque será esta atitude importante para quem quer discernir a presença de Deus?

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