Partilhar o que temos.

Testemunhos de jovens que reflectiram no tema "Partilhar o que temos" que foi explorado pelo Irmão Alois na Carta da China, a última a ser editada.


Michael (Alemanha) deixou Taizé em Junho, depois de um ano como voluntário
Foi em Junho que deixei Taizé, depois de um ano como voluntário. De regresso a casa, tinha ainda muitas coisas presentes no pensamento e que me faziam distrair. Mas ao fim de alguns dias fui, a pouco e pouco, descobrindo o enorme tesouro que trazia em mim: as recordações da vida em Taizé. E a vida em Taizé significa a vida em comunidade, o encontro com o outro, a troca, a partilha do que temos.
Antes, sempre que pensava na palavra «partilha» associava-a a algo material. Depois da minha experiência em Taizé, ao trabalhar e ao viver com outros voluntários do mundo inteiro, descobri que «partilha» podia significar mais que isso.
Podemos partilhar a alegria e o sofrimento, o nosso contexto cultural, recordações, dúvidas, a confiança e a fé em Deus. Muitas vezes fazêmo-lo inconscientemente. Mas é sobretudo fantástico quando nos apercebemos ou lembramos destes momentos tão simples na nossa vida quotidiana.
Na vida comunitária podemos, através da partilha, encontrar estes momentos de criação que podem ajudar-nos, então, a compreender o mistério da Eucaristia. Somente se dermos e partilharmos é que podemos criar algo novo e inesperado, algo único. Estes instantes tão simples podem transformar-nos criando uma profunda comunhão com os outros. Não será isso a comunhão no corpo do Cristo oferecido e partilhado? Estes momentos podem ser um reflexo do mistério da Eucaristia na nossa vida quotidiana. Instalam-se na nossa memória e são inesquecíveis, à espera de serem de novo partilhados.
… desenvolver redes de entreajuda; promover geminações de cidades, de vilas, de paróquias, para ajudar aqueles que precisam de auxílio…


Barbara (Chile) vem da diocese de Concepción, onde todos os anos, no Verão, jovens de diferentes paróquias animam as «Missões rurais».
Cada paróquia compromete-se a visitar, durante dois Verões, uma zona específica da região. Estas zonas estão tipicamente isoladas da cidade; alguns habitantes vivem no campo, a sua actividade principal é a agricultura, e nem sempre têm água corrente ou electricidade. Ainda que todas as famílias de uma zona se conheçam, as casas estão muito afastadas umas das outras, as estradas são precárias e as pessoas deslocam-se a pé, a cavalo ou de bicicleta. A igreja mais próxima fica longe das suas famílias, que se ocuparam de várias capelas. Mas, por causa da distância e por falta de tempo, um padre só lá celebra a Eucaristia uma vez por mês.
Foi esta realidade que eu descobri com a minha comunidade paroquial ao visitar as famílias desta região. Preparámo-nos durante algum tempo para organizarmos a catequese para crianças e adultos. Visitávamos dia-a-dia as famílias pelas manhãs e à tarde fazíamos uma partilha sobre a catequese.
Fiquei surpreendida ao perceber como as pessoas aguardavam a nossa visita, como nos acolhiam com amor e sempre com qualquer coisa a partilhar. Eu pensei que iria dar muito, mas afinal recebi muito mais. Encontrei uma senhora idosa que vivia em grande solidão. A sua vida inteira foi dedicada a cuidar dos pais até à morte destes; depois ficou completamente sozinha. Vivia numa pequena casa, os vizinhos mais próximos estavam a alguns quilómetros dela. Na primeira vez que a visitei pediu-me para ver o seu livro de orações. Explicou-me que todos os dias pegava numa passagem da Bíblia e depois escolhia um versículo para escrever a sua oração. Quando comecei a ler o livro, descobri que ela agradecia a Deus por cada pequena coisa do seu quotidiano […].
É inacreditável, mas quando chamamos «irmão» a um estranho, Deus vem sobre o nosso caminho. Os pequenos gestos, que por vezes parecem não ter valor, ajudam-nos a semear a esperança e a ver sempre o que nos faz poder ser reconhecidos por Deus.
… viajar para compreender por dentro outras culturas e outras situações humanas…
Amanda (Suécia) participou no recente encontro de Manila.
Gosto muito de viajar. Gosto de encontrar pessoas que aceitam partilhar um bocadinho da sua vida comigo. Gosto de ver como vivem as pessoas, perceber como as suas vidas são tão diferentes das nossas e ao mesmo tempo tão parecidas. Poder partilhar a vida quotidiana do Outro é uma dádiva, sobretudo quando vimos de meios diferentes.
Participei no encontro de Taizé nas Filipinas e, curiosamente, ali senti-me mais em casa do que na Suécia. Na minha escola, dos 1400 alunos só somos 25 a declarar-nos crentes, a dizer que temos fé. Nas Filipinas havia sinais por todo o lado dizendo «Jesus ama-te» e «temos confiança em Deus», foi impressionante ver um país cheio de fé.
Ce que j’ai vécu à l’occasion de mes voyages est un peu identique au sentiment que l’on peut ressentir en passant une semaine à Taizé. Les gens sont ouverts, sincèrement intéressés à ce que vous avez à dire et à ce que vous êtes. Il s’agit juste de vivre le moment offert. Rassembler des gens issus de contextes différents, fait de Taizé un endroit concret pour permettre à votre foi et votre personnalité de grandir. Visiter différents pays en restant dans l’esprit de Taizé parvient à vous convaincre que chaque relation pour laquelle vous êtes prêt à vous investir contribue à construire un monde meilleur.
O que vivi nas minhas viagens é parecido com o sentimento que se pode ter ao passar uma semana em Taizé. As pessoas são abertas, verdadeiramente interessadas no que tens para dizer e em quem és. Trata-se de viver o momento com entrega. Visitar diferentes países, com o mesmo espírito e disposição com que visitamos Taizé, acaba por convencer-vos que cada relação na qual estamos disposto a investir contribui para a construção de um mundo melhor.
… utilizar bem as novas tecnologias para criar laços de apoio…
Guna Anna (Letónia) procura conciliar a fé com as suas responsabilidades profissionais.
Agradeço a Deus por tudo o que ele nos dá, por me ter ajudado, há uns tempos, a colocar estas questões tão difíceis: será que devo continuar a pôr em prática os dons que Deus me deu para atingir apenas fins materiais? Devo fazer tudo para me tornar milionária? Não poderei antes pôr em prática os meus dotes e a minha experiência na utilização das técnicas de comunicação do séc. XXI para criar laços na minha paróquia e difundir a Palavra mais longe do que nunca? E, neste caso, como viver sem passar o meu tempo num belo escritório e em reuniões importantes à noite?
Depois de tomar a decisão de mudar radicalmente a minha vida, tenho agora a certeza de que «quanto menos tenho, mais tenho para partilhar». Obrigado meu Deus por me teres mostrado onde podia fazer frutificar os dons recebidos.

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