Textos bíblicos com comentário de Maio:

Estas meditações bíblicas são sugeridas como meio de procura de Deus no silêncio e na oração, mesmo no dia-a-dia. Consiste em reservar uma hora durante o dia para ler em silêncio o texto bíblico sugerido, acompanhado de um breve comentário e de algumas perguntas.

Maio:

Salmo 63: Abundância no deserto
"Ó Deus, tu és o meu Deus! Anseio por ti! A minha alma tem sede de ti; todo o meu ser anela por ti, como terra árida, exausta e sem água. Quero contemplar-te no santuário, para ver o teu poder e a tua glória. O teu amor vale mais do que a vida; por isso, os meus lábios te hão-de louvar. Quero bendizer-te toda a minha vida e em teu louvor levantar as minhas mãos. A minha alma será saciada com deliciosos manjares, com vozes de júbilo te louvarei. Lembro-me de ti no meu leito, penso em ti, se fico acordado, porque tu és o meu auxílio e à sombra das tuas asas eu exulto. A minha alma está unida a ti, a tua mão direita me sustenta. Os que procuram a minha ruína, cairão nas profundezas do abismo. Eles morrerão à espada e serão transformados em pasto de chacais. Mas o rei há-de alegrar-se em Deus, cantarão louvores os que juram por ele, enquanto a boca dos mentirosos será fechada." (Salmo 63)

Para pensares:

Cada ser humano parece ser habitado profundamente por um desejo de absoluto, que nada pode acalmar por completo. Esta sede cava um tal vazio em nós que somos tentados a preenchê-lo com qualquer coisa que nos passe pelas mãos. É talvez por medo deste vazio que nos chegamos a intoxicar de demasiadas coisas.

Refazer a experiência do salmista no deserto, redescobrir que é Deus quem provoca a sede, é talvez uma das maiores urgências do momento. «A minha alma tem sede de ti». Em hebraico, alma diz-se nephesh, garganta. A alma em nós é o que espera receber o sopro da vida, a ruah. A alma é, pois, o apetite de vida, a garganta aberta à espera. É paradoxal que um povo que passou mais de quarenta anos no deserto e que teve de fazer uma experiência tão dolorosa de sede tenha guardado esse mesmo vocabulário para descobrir a busca de Deus. E contudo: Deus deixa-se procurar na experiência da falta.

Felizmente, a insatisfação conduz também a outra coisa: o vazio é preenchido através da visão: «Quero contemplar-te no santuário». Por que razão David, no deserto, fala agora de santuário? Nostalgia de um tempo em que se encontrava tranquilo a meditar na casa de Deus? Ou visão da fé pela qual o próprio deserto se torna lugar da presença de Deus? Esta segunda interpretação abre perspectivas interessantes: «glória» diz-se kavod em hebraico, que se traduz também por abundância. No deserto, mesmo se tenho realmente sede, encontrei a tua abundância!

Esta «abundância» passa pelo louvor que enche a boca do salmista: «com vozes de júbilo te louvarei». O plural do início do versículo marca ainda mais o sentimento de receber a vida em proporções generosas. Que contraste entre este versículo e o início da súplica! Como é que a seca e a infertilidade puderam transforma-se tanto?

Talvez graças a este versículo intermédio: «Quero bendizer-te toda a minha vida». Bendizer significa transmitir a vida. Dito de outra maneira: pela minha vida (bem viva!), devolvo-te a vida que tu me deste. Fazer a experiência da sua própria vulnerabilidade, da condição frágil do ser humano, deixa lugar para receber o dom da vida e depois para sermos nós a transmiti-lo. É essa a troca que se realiza na oração: eu devolvo-te o que recebi de ti, e fico contente por isso!

Depois de ter experimentado a abundância de Deus no coração do deserto, o salmista abre-se num louvor emocionante em que se sucedem imagens maternais, sublinhando a ternura do «seu Deus»: «A minha alma está unida a ti»: és tu quem me precede, és tu que defrontas o perigo para mim. «À sombra das tuas asas eu exulto», «porque tu és o meu auxílio». «Auxílio» é uma palavra muito bonita: é a que descreve o papel de Eva junto de Adão; deve ter sido a que Jesus utilizou ao dizer aos seus discípulos: «Eu apelarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco» (João 14,16).

Neste contexto, que parece apaziguado a partir de agora, porque razão acabar com a evocação tão dura dos inimigos e mentirosos? A Bíblia tem esta honestidade de nunca esquecer que vivemos num mundo onde coexistem as trevas e a luz. Esta liberdade de expressão com Deus é essencial para que a oração seja verdadeira. Em Deus há lugar para receber tudo; o ouvido de Deus não tem medo de escutar até mesmo as palavras violentas. Resta ao Espírito Santo, através de um trabalho paciente, transformar o ardor da imprecação em perdão.

Tenta responder, vai ver que vais gostar das respostas:

- Já fiz a experiência de um vazio interior? Foi positiva ou negativa?

- A insatisfação e o louvor podem coabitar?

- «Encontrar a abundância no deserto»: isso já me aconteceu?

Fonte:http://www.taize.fr/pt_article175.html

Aquele abraço e boas pedaladas, alexjudoka_gmr
Até breve

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