Meditação de Setembro

Isaías 6,1-8: Uma «revolução coperniciana»

No ano em que morreu o rei Uzias, vi o Senhor sentado num trono alto e elevado; as franjas do seu manto enchiam o templo. Os serafins estavam diante dele, cada um tinha seis asas; com duas asas cobriam o rosto, com duas asas cobriam o corpo, com duas asas voavam. E clamavam uns para os outros: «Santo, santo, santo, o Senhor do universo! Toda a terra está cheia da sua glória!» E tremiam os gonzos das portas ao clamor da sua voz, e o templo encheu-se de fumo. Então disse: «Ai de mim, estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, que habita no meio de um povo de lábios impuros, e vi com os meus olhos o Rei, Senhor do universo!» Um dos serafins voou na minha direcção; trazia na mão uma brasa viva, que tinha tomado do altar com uma tenaz. Tocou na minha boca e disse: «Repara bem, isto tocou os teus lábios, foi afastada a tua culpa, e apagado o teu pecado!» Então, ouvi a voz do Senhor que dizia: «Quem enviarei? Quem será o nosso mensageiro?» Então eu disse: «Eis-me aqui, envia-me.»
(Isaías 6,1-8)

No início século XVI, Copérnico formulou a teoria segundo a qual, contrariamente às aparências, não é o sol que gira em torno da terra, mas a terra em torno do sol. Do mesmo modo, quando procuramos uma direcção para a nossa vida colocamo-nos, em primeiro lugar, no centro do nosso universo e procuramos dar-lhe um sentido, pensando, talvez, que Deus faz parte da nossa existência. Seguidamente, podemos experimentar a nossa própria «revolução coperniciana»: compreendemos que não é Deus que faz parte da nossa vida, somos nós que fazemos parte da sua.

A história da vocação de Isaías, sobre uma visão, está escrita numa linguagem fantástica, mas descreve precisamente a tal mudança de perspectivas, presente na descoberta - e na redescoberta contínua - da nossa vocação. É a história do despertar de um ser humano para a sua situação verdadeira face ao mundo real. A vela é removida e Isaías prevê a realidade de Deus. É uma visão de algo tão perfeito que, de repente, ele consegue distinguir, por contraste, a sua própria imperfeição profunda: «Ai de mim!» A esse respeito, podemos pensar na parábola de Jesus sobre os dois homens que vão ao Templo rezar (Lucas 18,9-14): o colector de impostos está consciente da necessidade de uma cura.

Paradoxalmente, é quando Isaías admite a sua grande distância de Deus que se abre a possibilidade para que possa receber o perdão. E este perdão, descrito como brasa ardente, deixa uma marca indelével sobre a sua vida.

Quando tomo consciência da minha indignidade, o meu olhar sobre os outros transforma-se. Compreendo que a distância entre Deus e mim é muito maior - ainda que de uma natureza distinta - do que a me separa de qualquer outra pessoa. E esta constatação também queima, queima qualquer juízo para com os outros.

A história mostra uma coisa surpreendente relativamente à nossa relação com Deus. Os humanos são muito imperfeitos, no entanto têm a liberdade e o poder de dizer «sim» ou «não» a Deus. A vocação descoberta por Isaías vem de uma direcção inesperada. Mais do que encontrar apenas «o que lhe convém», ele é livre para se juntar a algo muito maior: a própria obra de Deus. «Quem deverei enviar? Quem ficará do nosso lado?» Como outras pessoas que foram enviadas por Deus, Isaías descobrirá uma força que vence a sua timidez pessoal e que não é conhecida por aqueles que insistem em ser eles mesmos a traçar o seu próprio caminho ao longo da vida.

- Quando compreendeste que a tua vida é centrada em Deus, e não o contrário?

- Em que situações gostavas de encontrar a liberdade de um olhar sem julgamentos?

- Onde ouves Deus dizer-te: «Quem deverei enviar? Quem ficará do nosso lado?»

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